Nesta Noite que se
anuncia
Tu Cervo,não terás
as sementes!
Porque eu as colhi.
Pertenciam-te?
Sim talvêz!
Terás que vaguear
pela Noite toda
em busca delas.
Chegada Aurora
recolher-te-às,com fome,
esperando que a Luz recolha!
Daqui te envio,saídas dos
lábios abertos dourados,
nos primeiros frios
Setembrinos
para que continuem os
Bosques Primordiais!
palavras:
longinquas e velhas.
crueis.
que dormem sem prazer ,
nem malicia.
curvas ,que vivem
impunemente.
palavras com corda,
mas sem vida própria.
palavras;
assexuadas.
não fecundadas.
sem musica pura.
sem movimento.
sem a sinfonia
da transformaçao.
sem particulas de terra
e chuva dentro!
palavras;
a um só Deus!
que distraem,mas que
nos deixam sem amparo.
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............!
palavras inaugurais:
palavras que se
inaugurem,já!
soltas como as corças
na planície.
de terra e de corpo.
de silêncio para encontrar
a vida.
prenhes de alegria!
com seios frágeis e bonitos!
palavras:
que rasguem!
para parir,
um Mundo,outro.!
Quem fará justiça às vitimas inocentes?
Púnhamos tudo naquilo que faziamos,
púnhamos de nós e de outros.
às vezes ficávamos com as costuras
à mostra.
quando tentávamos ser
nómadas sem tempo!
E hoje
precioso companheiro?
Quem fará justiça às vitimas inocentes?
Gota de água suspensa
Às vezes exijo às pernas
cansadas
Que avancem com
determinação
para uma dança que
esqueceram.
Mas insisto,persisto
e assim existo!
Seguindo uma carretera
com destino clandestino.
Como gota de água
suspensa
Num sorriso magoado!
Desejei-te.
Corta-me o cabelo
Nunca arranjo vez.
Será porque estão a
ficar brancos?
-Não, o corte do teu cabelo,
não entra aí, hoje!
Pega!
(será que me confundiste
com as arvores, com os homens
antes da linguagem?)
Pousaste no meu cabelo
ao vento.
Aí entraste.
Pega Azul
e fizeste ninho!
Estas são as mulheres do meu país.
Verdadeiras heroínas, entre milhares, a quem Portugal tanto deve e para as quais só há esquecimento e nenhuma gratidão.
Mulheres corajosas, estas e outras, que tudo deram e a quem pouco ou nada dão.
Mulheres de quatro estações, que não viram a cara, que amam e sofrem, como quem cumpre um destino a que não se pode fugir.
Peregrinas duma existência, que vai cavando o deserto dos seus dias e ceifando suas clandestinas alegrias.
Todas amaram, umas foram amadas, outras não, algumas não sabem se o foram ou não.
Mas elas amam sempre; amam o pai, o irmão, o seu homem, o companheiro que não tiveram, o filho, o sobrinho, o neto, o afilhado, o aluno.
Estas também são as mulheres do meu país.
Mulher(es) sem voz, nem vez, para vós desenhei também este poema com amor:
Amo-vos
Nas tardes frias de Dezembro
Nas mimosas que florescem em Fevereiro
Nos dias quentes e noites de luar de Agosto
Nas carícias que fazeis ao milho e às uvas, soltando o vinho em Setembro
Na música do vosso rio
Nas estórias do viajante das sete partidas!
No sonho
No gesto suave e leve (que não tiveste) da mão dum pai (quando criança) sobre o cabelo.
Publicado originalmente no espaço Lugares d’aqui do Jornal de Penacova nº 56, de 15/01/2001, página 13.
Silêncio!
Aqui as madrugadas são lentas!
E não há caminhos de futuro!
As noites não têm vozes amigaveis!
A liberdade só existe
para quem tem força para a usar!.
Tanta labuta
Em que a terra se permuta
Em que o corpo escuta
Às vezes sai palavra bruta
Mas logo a mão afaga
a dor na ilharga
E outrem que passa diz
em chalaça
- Já massa, já massa
Chalaça que não embaraça
Porque Rosália tem graça
Mesmo quando canta
- Homem ,você está gasto!
- Gasto? "Doio-me de dor ferida
que antes tinha a vida inteira
e hoje tenho meia vida"
- Mas, gasto, gasto!
Não! Rosália (de Castro).
Armando de Villanova
Poema em homenagem aos homens e mulheres desta comunidade que com esforço, sabedoria e amor à terra apanham a azeitona e transformam em ouro líquido. que saibamos preservar esse legado que souberam trazer até nós porque é um acto de cultura.
Hà saudades nas pernas e nos braços.
Há raivas feitas de cansaços .
Que é do sonho,à janela da infancia?
Tudo é nada,
E tudo um sonho finge ser.
Para ouvir o Vento
Valeu a pena existir.
Uma vez amei
Pensando ser amada.
Talvez nao tivesse que o ser.
Pensei que podia inventar
Com esse amor, aquilo que
nao tinha vivido(até aí).
Mas talvez nao houvesse
nada para inventar.
Como as ervas nuas
numa manha de orvalho
Fui livre.
Viajas de aero(porto)
em aero(porto).
Como pássaro de árvore
em árvore,mas fechas
a pequena janela,
(do tamanho duma moldura)
do teu quarto de banho.
Aonde uma garça de asas abertas
nâo entraria
e sucumbiria no solo!